terça-feira, 28 de junho de 2016
VERMELHO
A extensão do muro toma todo o horizonte,
como as pedras calcadas no chão e
nos vãos dos rios,
estátuas esfaceladas
pela chuva ácida que consome
toda paisagem
a cor vermelha escorre
entre o meio-fio, frestas do dia.
terça-feira, 21 de junho de 2016
SÃO PAULO VIII
Cinzas horas que se movem
Nos lentos relógios
do centro
os prédios são ponteiros
as sombras demarcam segundos
A fuligem extrema - extensa
pinta a tarde a óleo
Alguns esboços se perdem imprecisos
nos resíduos que escorrem
em canos despidos dejetos
des pe ja dos
no pôr-do-sol
O medo é feito de um céu
aberto
onde nenhuma lua
se posiciona
As tintas vazadas são frias
e distorcem quadriláteros descascados / aflitos
concretudes diagonais e pontiagudas
revestidas armas apontadas para o silêncio.
1930
Entre becos e bondes
A expressionista sombra disforme
Do homem pouco
que se debruça no parapeito
Do sombrio edifício Paramount
transeuntes se nivelam no asfalto
vidraças sujas de poeira amanhecem,
enclausuradas mulheres folheiam dispersas
revistas tristes
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Um novo governo se anuncia.
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no subúrbio mais distante
cabras pastam no lodo.
PRIMAVERA
Sangrar como a tarde
em remorso
e suas convulsões
- Já não encontramos mais
nenhuma veia!
Em tudo o cheiro forte
de formol.
É tarde entre flores.
Setembro se aproxima.
Um ou outro pássaro pousa
nas pilastras térreas do necrotério.
SÃO PAULO I
Com cheiro de tétano
e chumbo
os cadáveres estão expostos
na noite
São Paulo faz as estatísticas
de seus mortos
88% negros, 10% pardos,
2% brancos
100% pobres.
FOLHAS DE BORDO
Estou vestido de liberdade
Deito-me e durmo em liberdade
Respiro, consumo liberdade
Num trago, num grito,
num espanto
Por isso rascunho versos livres
soltos, sem prumo
Por isso rasgo sonetos e os
atiro ao vento
Para que as palavras soltas
se moldem nas folhas de bordo
caídas no chão.
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