sexta-feira, 19 de outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

ODE AO URUBU-REI






I

Urubu-rei, malandro
Pousado no nunca
Urubu-incerto, perto daqui
Pousado no muro
Urubu-espanto, adormecido
Aguardando as horas
se precipita
Urubu-frágil, como a tarde.



II

Ou nem tão frágil assim, talvez irreal
És o mesmo que sobrevoou Canudos
(outros fronts pelos tempos afora)
E que agora aguarda silencioso.




III

Um urubu na tarde apenas
Uma outra pena
Da ave certa, certeira, rapina
És o agouro no voo
                              mais leve.





quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SÃO PAULO III






Edifícios - mares de porvir
entre antenas e selvas
a lírica forma
                   de um dorso nu.

Corpos de pedra e vidraça.
Na tela: um pivete que salta
e assalta o olhar da moça do Trianon.

Despedaçam-se as formas,
os planos cartesianos ou não.
A estrangeira, o bêbado, o homem quase sério,
mas descabido.

No esgoto, um bocejo matinal.
No corpo, um desprazer assexuado.
A morte incompatível de Orpheu e Eurídice.

Ah! São Paulo das almas revolucionárias de 22,
Dos padres que ainda catequizam no pátio do colégio
os índios virtuais.
Das sombras mortas da Revolução que descem o Vale
e se refugiam no viaduto.

São, são tantos... Do chá amargo ao café temperado e semi-puro.
Do beijo de hortelã, à moça de olhar simbolista.
Sem compasso, sem esquadro, sem tempero.
Do corpo exposto à mais-valia, à dor nossa de cada dia:
São Paulo. São (Plural - 3ª pessoa).



















                                                           

sábado, 1 de setembro de 2012

O SER E O NADA

                                              Luis Buñuel - 1929 - Um Cão Andaluz
                         









Depois, eras a noite. Teus olhos.
A fome trêmula.
E poder-se-ia sentir as sombras.
A morte pálida das mãos
                                   solitárias.


Antes, serás a ausência a sós.
Do fantasma anunciado, calado.
O drama intocado que se apresenta:

Um fantasma frente a outro fantasma.







CONCERTO À MEIA-LUZ











À noite, enquanto dormem os móveis,
há uma ou outra assombração
                         ao pé do velho piano.

Nos retratos, os avós olham a cena,
esboçam  um  meio-sorriso amarelo


                  .










ELEGIA

                              Buster Keaton & Charles Chaplin - 1952 - Luzes Da Ribalta








Senhora, abreviarás a madrugada
e em meu corpo o nada:
Uma tristeza que se esqueceu

Virás assim, nua, numa nudez pálida
Nenhuma carta, nenhuma explicação
Apenas o nada.

Senhora, me procurarás, sei
Quando eu menos esperar, estarás
Em frente ao espelho, sem retoques, nem maquiagem

Nenhum não, nenhuma rusga, nenhuma elegia
Apenas tu, Senhora, sem aparência,
                                                nem nostalgia.