sexta-feira, 22 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
SEMIÓTICA
Mário Peixoto - 1931 - Limite
Aos poucos eu olho a manhã
Com o canto do olho
esquerdo
o direito mantenho
fechado
E o dia segue estreito/abstrato
tapa-olho, meia visão
De noite retiro os dois olhos
e os ponho num copo
E enxergo toda a escuridão.
Aos poucos eu olho a manhã
Com o canto do olho
esquerdo
o direito mantenho
fechado
E o dia segue estreito/abstrato
tapa-olho, meia visão
De noite retiro os dois olhos
e os ponho num copo
E enxergo toda a escuridão.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
O HOMEM DE PAPEL
Então acaba-se assim um homem
Num segundo - e já não existe mais.
O que fez; o que não fez - a tarde
O que faria; o que desejaria ainda.
Ponto final. Vira-se a página.
O homem é passado. Passou.
Recorte de recortes.
O livro fechado. Esquecido.
Mera ilusão. A noite
Empoeirada em estantes.
As revoltas (reviravoltas),
o sofrimento, a chama.
Sequer o adeus reservado.
Apaga-se.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
OUTROS HAICAIS
RESTOS
tédio e versos apenas
a noite cobriu tudo
só restou esse poema.
........................................
HORAS
perdeu-se entre os ponteiros
aquele momento,
não deu tempo.
...........................................
ESCURO
O grito parou.
A noite cobriu tudo.
Tédio e versos apenas.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
terça-feira, 3 de setembro de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
O HOMEM E O NADA
Mário Peixoto - 1931 - Limite
o homem o nada
nada
tende a
nada
o homem
o nada
nada
a tende
o homem
nada
tende a
o nada
o homem
HAICAIS IMPROVÁVEIS
Mário Peixoto - 1931 - Limite
o corpo exposto
folha seca
casco de cobra abandonado.
................................................
memórias distorcidas
espelho fragmentado
foto desfocada - apaga
o corpo exposto
folha seca
casco de cobra abandonado.
................................................
memórias distorcidas
espelho fragmentado
foto desfocada - apaga
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
HAICAIS SOTURNOS
da noite
um punhado de estrelas
e um luar suicida
.............................................
dos versos
um quê de ausência
póstuma fragrância
......................................
do tempo
relógio frio que se despede
ao menos
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
HAICAIS SOTURNOS II
Ergue-se a lua
mãos dadas
casais à deriva.
.......................................................
Noite extensa
todos se entendem
menos os poetas.
..............................................................................
Mínima sentença:
condenado à morte
por viver apenas.
EPIGÊNESE ANTI-PESSOAL Nº 83
nasci entre
dois receios
a corda perpendicular
os semblantes calados/
serenos
:
meu sangue quase virou
água
'
tísico, absurdamente magro
recorri aos versos
para estender-me
estou ]
mesmo que à margem
- a mesma
terceira do rio riacho ameno
combalido ignorado
existo ]
mesmo que ameaçado
vento que sopra alheio
- o mesmo
destrutivo desprezado
resisto ].
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
O CAVALEIRO, OS MOINHOS E CIA...
- Ó fidalgo Dom Quixote, meu senhor e cavaleiro, diga-me: o rei sabe o tanto que temos feito por ele? De todas essas glórias e desilusões?
- O rei sabe de tudo, meu fiel escudeiro, não tardará a recompensa que almejas. Não tardará!
Sancho sorriu. Esboçou uma alegria pueril, como há muito não fazia.
Mas Dom Quixote não. No fundo ele sabia que toda aquela aventura, todas as desilusões eram apenas para si mesmo. A recompensa não viria. Não haveria condecorações, nem elogios (um fazer poético?). Sabia perfeitamente que os moinhos eram apenas moinhos. Sabia que a ilha não existia e que o rei jamais soubera ou saberia da existência deles. Mesmo assim seguiam. Empunhavam suas lanças com firmeza e galopavam. Ele e seu fiel escudeiro. A tarde caía - ignorava.
OS ESCOMBROS DA NOITE
Ele havia feito todos os exames. Estava curado. O médico elogiara os resultados, o tratamento impecável. Gozara agora da mais perfeita saúde. Sorria.
À noite, quando todos dormiam, levantou-se. Desceu ao porão, procurava algo.
Pela manhã encontraram-no. Os pés 30 centímetros do chão. A corda estática. Sem movimento.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
CÉU AZUL PÁSSARO METÁLICO
céu
azul
aberto
só
o pássaro
metálico
paira
logo
a
tra
ves
sa
o azul
recorta
o tempo
e o céu
de
s
m
a
i
a
A ESTÁTUA DO POETA
O poeta de concreto
Estátua na praça
para as pombas
do meio-dia.
O poeta e suas lentes
de concreto
As pombas não se cansam
de cagar nele.
No meio-dia
Os turistas o abraçam
O poeta-estátua
cria fuligem, limbo-cinza
faz parte da paisagem.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
OS NADADORES
O rio é profundo.
Reparo que nele
há nadadores mortos.
A água escura encobre
Os nadadores mortos
nadam,
puxam o fôlego.
Sobrepõem-se ao turvo e
às plantas aquáticas.
Os nadadores mortos
ainda nadam.
terça-feira, 28 de maio de 2013
quinta-feira, 9 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
ANTI-PESSOAL
Eu -1ª pessoa
ou 3ª
Sou muitos
anti-pessoal
Sou poucos
pronome-oblíquo
quase reto
dissimulado
sem asas
torto por demais
velho, assimétrico
imprevisto
sábado, 4 de maio de 2013
ÓPIO
Acordo e aflito deparo-me
com a treva manhã turva
o corpo cansado mutilado
aos pedaços
- alma entrecortada,
farpada em arames
Aquilo que seria, o vir-a-ser
tornou-se ópio fuligem respira-se
O que deveria ser verso, música, silêncio
- torpor e ausência mútua
Que mal sei o quão negra
é essa manhã, esse rastro, o cortejo
Que acompanha-me sem fim
tarda-me?
Nos olhos feitos arde o cinza
a folia, o carnaval dos dias negros
inválidos, semi-aparentes
metades
Adormeço e aflito deparo-me
com um país
Um país que já não conheço
Esqueço.
.................................................
Abro as janelas
fecho o horizonte.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
A VALSA DOS MORTOS
Mário Peixoto - 1931 - Limite
As nuvens cinzas passam
a tarde é comovida
- consumida.
São Paulo - Mário de Andrade
e suas avenidas.
a morte é um anúncio na tv
dois homens de bigode e paletós
conversam na tarde
Chove!
São Paulo: comoções, aparentes.
O Vazio. Do Trianon à Praça Clóvis
Vazio absoluto.
Nem todos os subúrbios,
todas as misérias pedintes
preencherão tal vazio.
(absoluto!)
Do projeto interminável,
os escombros de uma noite,
de um dia que não se fez
(esquecido na memória
ou na ladeira da saudade)
sexta-feira, 12 de abril de 2013
PAISAGEM MORTA
Corro distante me abstraio
A noite é longa intraduz-antes
O medo de não sabê-la inteira
De não decifrá-la única
- prática - inconstante
Na infinita sugestão - o corpo
Memória descrita - o receio
Perdi. Perdeste, senhora:
Em que instante morremos a paisagem?
segunda-feira, 8 de abril de 2013
NAUFRÁGIOS FRÁGEIS
se as palavras desdobram
- origamis do nunca.
eu me desdobro e redobro
papel fino, facilmente
embalado
Laços - nós - frouxos.
se o tempo recobra
- antagônico, cru.
eu me ancoro no nada
prendo-me aos porões e convés
- naufrágios do sem-fim.
Laços - nós - frouxos.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
QUADRILHA
João assassinou Raimundo
que matara Teresa
que envenenara Lurdes
que enforcara Heitor
que fora traído por Helena
que pertencia a outro grupo
do tráfico
João foi preso e entregou
os outros comparsas
- terminou sufocado na prisão.
Helena mudou-se para outro
estado, alterou a identidade
e agora se chama
J. Pinto Ribeiro
nome de guerra e de batismo.
segunda-feira, 11 de março de 2013
RELÓGIOS ANTIGOS
Dizem que antigamente
quando
morria alguém na casa,
paravam
os ponteiros do relógio
naquela hora,
Naquele minuto-instante.
E assim permaneciam
dias, semanas...
Como guardando intactos
o momento crucial.
Então, uma boa mão mais velha
acertava os ponteiros.
E
o tempo voltava a correr
Irrestrito-incondicional.
Belos
relógios antigos,
não
apenas contavam as horas, mas
demarcavam
o tempo e as existências.
terça-feira, 5 de março de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
TESTAMENTO
Doo o que tenho
pensamento, versos, órgãos
A bem da verdade nada tenho
é tudo do mundo
estou apenas devolvendo.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
A GOLPES DE MARTELO
E a cada golpe do martelo eu me disperso
E a cada golpe do martelo eu me despeço
E a cada golpe do martelo eu me dispo
E a cada golpe do martelo eu me dis
E a cada golpe do martelo eu me d
E a cada golpe do martelo eu me
E a cada golpe do martelo eu
E a cada golpe do martelo
E a cada golpe do marte
E a cada golpe do mar
E a cada golpe do
E a cada golpe
E a cada gol
E a cada
E a ca
E a
E
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
de ferro de chumbo
de ferro de chumbo
metal metálico
beijo de chumbo
gosto de ferro
de aço cinza
metálico beijo
de chumbo metal
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
ESTRANGEIRO
estrang eira pisar no chão que não conheça a fala mor na de um h
omem
na t urba li vra dos olhos h ostis um p ouco de pe numbra m orta e amena
amem
se a rua dobra-se à esquerda minha sombra curva-se a um ponto co-seno da margem
direita e não há nenhuma sobra do que foi ou do que será e deveras ser ão germem
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