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terça-feira, 21 de junho de 2016
SÃO PAULO VIII
Cinzas horas que se movem
Nos lentos relógios
do centro
os prédios são ponteiros
as sombras demarcam segundos
A fuligem extrema - extensa
pinta a tarde a óleo
Alguns esboços se perdem imprecisos
nos resíduos que escorrem
em canos despidos dejetos
des pe ja dos
no pôr-do-sol
O medo é feito de um céu
aberto
onde nenhuma lua
se posiciona
As tintas vazadas são frias
e distorcem quadriláteros descascados / aflitos
concretudes diagonais e pontiagudas
revestidas armas apontadas para o silêncio.
SÃO PAULO I
Com cheiro de tétano
e chumbo
os cadáveres estão expostos
na noite
São Paulo faz as estatísticas
de seus mortos
88% negros, 10% pardos,
2% brancos
100% pobres.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
SÃO PAULO IV
São Paulo escurece. E tudo
ainda inventa-se claro, nítido.
Letreiros atônitos piscam incessantes/
pulsam
Como automóveis anônimos que avermelham
longas avenidas em suas distâncias
oblíquas, marginais,
setas para o sem-fim.
Olhares são vitrines pedintes.
Corpos estendem-se esculpidos na modernidade
de Brecheret
frações cifradas de uma mais-valia
plástica/ artífices impressos
Corrosiva ilusão
...............................................................................
São Paulo amanhece. E tudo
ainda inventa-se escuro, sombriamente
apagado.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
SÃO PAULO VII
Entre estreitas intenções - estáticas
a porta
semicerrada
a dor imóvel / inútil
o corpo paralisado
ar suspenso
..........................................................
A cidade em seus trilhos
é composta de mordentes precisos
golpes frios de martelo
práticos
nas primeiras horas da manhã
ríspidos
ao meio-dia
metódicos
com o pôr-do-sol
..............................................................
A cidade consome seu impacto, voraz
mastiga com seus dentes intrínsecos
deglute seus versos
intrincados
encravados
escravizados
regurgita fuligens e metáforas,
adorna sombras imperfeitas/
chuvas ácidas
e expele seus dejetos - esgotos
(des) gostos cifrões parábolas parafernálias
rudes antenas servís palavras podres/
torpes antíteses
anônima agonia
D E S C O N S T R U Ç Ã O
e re-con-some-se em seu ciclo
infinito
segue
reciclado sangue
em círculo.
sábado, 8 de agosto de 2015
SÃO PAULO XXVIII
entre ruas mortas
tortas
sombras esquálidas
revestidas de fuligem
entre corpos entorpecidos
o cinza
estátuas que se movem
à beira de um esgoto
que toma toda cidade
o gosto de chumbo
está em tudo, em todos
em cada mórbida expressão
em cada palavra ausente
cáustico silêncio
e no lixo que se sobrepõe
horizonte enlameado
frutas podres que bóiam
catadas por mãos
ainda mais cinzas vorazes.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
SÃO PAULO IX
Na cinzentude opaca
de fuligem e concreto armado
estilhaços - espaços entre as grades
fragmentos e frestas
o grito
que vem das galerias
de esgoto e escorre
entre o rio que não
é rio
e a revolta represada
na merda.
]
Três tiros bastaram
para sangrar essa lua
para estancar esse medo
para escorrer o óleo diesel
do olhar lacrimejante
da moça bem vestida da Consolação.
]
Três golpes frios - lâmina branca
para jorrar ladeira abaixo
todo esse lixo de plástico descartável
- biodegradável
Todo esse caráter artificial
mais valia $ $ $ $
com gosto de opressão
(os subúrbio pulsam)
]
Na cidade mais podre/
em putrefata simetria
(de chumbo)
[
Três tiros bastaram
para apagar de vez esse lirismo doente,
doentio,
semi-morto.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
A VALSA DOS MORTOS
Mário Peixoto - 1931 - Limite
As nuvens cinzas passam
a tarde é comovida
- consumida.
São Paulo - Mário de Andrade
e suas avenidas.
a morte é um anúncio na tv
dois homens de bigode e paletós
conversam na tarde
Chove!
São Paulo: comoções, aparentes.
O Vazio. Do Trianon à Praça Clóvis
Vazio absoluto.
Nem todos os subúrbios,
todas as misérias pedintes
preencherão tal vazio.
(absoluto!)
Do projeto interminável,
os escombros de uma noite,
de um dia que não se fez
(esquecido na memória
ou na ladeira da saudade)
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
SÃO PAULO III
Edifícios - mares de porvir
entre antenas e selvas
a lírica forma
de um dorso nu.
Corpos de pedra e vidraça.
Na tela: um pivete que salta
e assalta o olhar da moça do Trianon.
Despedaçam-se as formas,
os planos cartesianos ou não.
A estrangeira, o bêbado, o homem quase sério,
mas descabido.
No esgoto, um bocejo matinal.
No corpo, um desprazer assexuado.
A morte incompatível de Orpheu e Eurídice.
Ah! São Paulo das almas revolucionárias de 22,
Dos padres que ainda catequizam no pátio do colégio
os índios virtuais.
Das sombras mortas da Revolução que descem o Vale
e se refugiam no viaduto.
São, são tantos... Do chá amargo ao café temperado e semi-puro.
Do beijo de hortelã, à moça de olhar simbolista.
Sem compasso, sem esquadro, sem tempero.
Do corpo exposto à mais-valia, à dor nossa de cada dia:
São Paulo. São (Plural - 3ª pessoa).
sábado, 1 de setembro de 2012
SONETO À CIDADE DE SÃO PAULO
Tens um santo no nome e quem te vela?
Em tuas ruas italianos, ateus, japoneses
Escondem a cara no odor parco, nas vezes
Mais raras do olhar para o lado, para a cela.
À luz da neblina que te encobres,
Ó cidade sem nenhum lirismo, frio
Corpo em movimento, olhos atentos, crio
Num andar este poema estranho que em ti foges
Tua prece, meu torpor, esta invalidez,
És o gosto azedo (avesso) do cinza, do chumbo
Na minha boca cada vez mais sem cor, nem tez...
Aqui em teu colo, o granito de meu túmulo esquecido!
Por ti, São Paulo, não a Londres desmedida, darei meu rancor,
Minha pálida revolta, meu pressentimento terno e vencido.
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